Entreolharam-se e perscrutei naquela momento uma certa anuência. Não me disseram de imediato que sim mas convidaram-me a esperar pelo fim do mês. Chegado, o meu pai convidou-me a acompanhá-lo ao acto de recebimento do salário. Assinava uma folha e pagavam-lhe ao balcão em dinheiro.A minha mãe também recebera por esses dias.
Em assembleia senti-me importante ao sentar-me à mesa da sala com eles. Um envelope da minha mãe, um outro com o dinheiro do meu pai! Tanto, pensava ao colocá-lo misturado em cima da mesa...
Vai buscar um papel e lápis, ajuda-nos aqui. Fui, e comecei a anotar. Renda, água, luz, telefone,mercearia, etc, etc.
Mas olhem lá, estas contas já passaram a quantidade de dinheiro que está em cima da mesa!
Pois, vais ao Sr. Pereira, levas o role e diz que os pais pedem para ficar cem escudos por pagar para o mês que vem. Fui e vi-o fazer as operações para que o mês seguinte começasse logo à partida com cem escudos. No role pequeno tipo caderneta que transportávamos sempre que adquiríamos algo e num livro grosso, estreito com múltiplas folhas encabeçadas por nomes, um deles o do meu pai.
Ao regressar a casa, não me lembro se continuamos à mesa. Sei é que nunca mais falei em mesada ou semanada.Passei a estar imensamente feliz com o dinheirito que os meus familiares me davam ou eventualmente uns tostões que dos meus pais em momento de menos aperto ganhava.
Continuei a estudar latim à mesa do café com o meu amigo Martins. Uns dias bebia a "chinesa" outros bebia eu. O importante era fazer uma despesa que nos permitisse ocupar a mesa...
Aprendi a gerir o que tinha. O que não meu, não existia.
Os meus pais não eram detentores de curso algum!
E que lição recebi, que sabedoria tinham eles.
Na qualidade de pai procurei passar a mensagem. Estou satisfeito, entenderam, assumiram-na, os meus filhos.