Acerca de mim

A minha foto
Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

quarta-feira, março 28

Reflectindo…

(Tejo. O meu olhar)

Em intervalo de leitura de uma deliciosa prosa, sentado comodamente à sombra de uns frondosos pinheiros, povoados de variadas espécies voadoras, os sons, os cheiros, o murmúrio de um longínquo bater de ondas, convidam a dotar de asas o espírito e deixar que livremente ideias mais ou menos consistentes, menos ou mais líricas se incorporem em contornos, primeiro mais voláteis, depois, consistentes.

Páscoa, Natal, duas épocas essencialmente alusivas a convicções religiosas, ao conceito de Família, oportunistamente aproveitadas pelo espírito consumista de uma sociedade que adopta valores em permanente mutação.

Como o espírito alado não encontra fronteiras, as ideias não precisam de ordenamento nem de uma cronologia para residirem num estado de fantasia, onde não existem restrições e surgem em cachoeiras de desejo.

Como posso com o meu contributo alterar o que se teima crer fatalidade?
Olho, ao meu lado, olho-me numa análise exigente e fria. Que posso melhorar?
Perguntas, perguntas, perguntas!
Vou reflectir e honestamente amanhã serei, farei melhor!

quarta-feira, março 14

vendo...com olhos de outro!


Quem se sente aprisionado?
O olhar que se expande e ultrapassa a grade, ou o Sol que trespassa a vidraça?
No último aconchego nicho de pedra, em carrossel o sol prepara-se para deslizar ao lago!
Momentos únicos vividos “dentro” de silêncios apaziguadores, captados por máquina cúmplice, máquina delatora.

Não estive.
Mas estando os meus filhos,
Senti!

quarta-feira, março 7

um pássaro especial


(parte segunda)


Um dia, talvez cerca de três meses depois, manhã cedo, olhamos estarrecidos. As penas das asas, penas grandes negras azeviche que foram, estavam brancas. Tivemos dificuldade em perceber se seriam mesmo brancas ou se por acaso algum pó as embranquecera! Não, eram, estavam genuinamente brancas.
E continuava triste.
E continuava quedo.
E continuava mudo.
Passaram alguns dias.
Numa noite, uma noite iluminada por Lua cheia, noite dentro, há quem diga que uma estrela cadente rasgara o céu. Diferente. Seria?
Em silêncio paz, um pássaro voava, libertara-se rumo ao infinito. Um rasto ténue soltava-se em partículas prateadas das extremidades brancas das asas. Só estas, brancas, se viam no índigo céu!
Há quem afirme que ecoara uma voz forte e suave – AL-FRE-DO! Ouviu-se. Um silabado assobio aveludado soltara-se!
A lua era alva, serena, sorridente. O apelo fora imenso, intenso.
Partira, em definitivo libertara-se.
Compreendi porque se fora.
Os amigos precisam de nós, querem-nos!
Há que chegar, há que partir.

segunda-feira, março 5

um pássaro especial

(Parte primeira)
O meu tio Alfredo era já um velho homem quando o conheci. Tio da minha mãe, meu tio-avô. Na casa dos oitenta, uma imensidão em anos, grande, como grandes são os homens aos olhos dos miúdos. Só por isso, porque em altura nem ao metro e setenta chegava.
Aos fins-de-semana, fui com os meus pais algumas vezes a casa de ti Alfredo. Casa térrea, com pátio nas traseiras, alguns canteiros, flores e uma pitangueira bem presente na minha memória. A gula, a sedução pelos pequenos frutos vermelho contraste no verde das folhas, levaram-me a trepá-la muitas vezes. Daquela vez foi diferente. Trepei, e rapidamente desci. Estatelei-me no chão, uma dor aguda no pulso, uma súbita vontade de vomitar! Recolhi-me ao velho Vauxhall, banco traseiro, a esquerda em afago da direita, pulso junto ao peito, esperando o regresso dos meus pais. No rosto, pálida vontade de novo trepar a pitangueira. Na boca, acre e amargo sabor do que fora um delicioso fruto tentação. A espera foi curta, o trajecto o Hospital, o diagnostico fractura do pulso.
No quintal, para além da vegetação, um melro-preto, em gaiola tipo mansão das gaiolas, várias portas, poleiros, comedores e bebedouros. Um melro-preto imponente, bico amarelo forte, irrequieto, com a particularidade de responder com assobio sincopado ao chamamento AL-FRE DO, ditado pelo dono! Engraçado!

O meu tio Alfredo, morreu subitamente. O melro veio para a minha casa. Entristeceu!
Estimulávamo-lo, quedou-se aconchegado ao aramado lateral!
Provocávamo-lo…”AL- FRE- DO”!Emudeceu.
Um dia,...
______________________________________________