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Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

segunda-feira, março 27

Um click, uma imagem!

Eh Zé!...
O grito ecoou rijo, sem direcção definida. Ecoou!
Apurei o olhar e associando o som ao corpo e movimento, vi-o.
Dobrado, mãos mergulhadas em movimentos gentis em redor da planta. Ajeitava-a, afagava as folhas, sacudindo ao de leve a terra castanha que da enxada se soltara e pousara no verde.
E de novo,… Eh Zé!...em pleno pulmão. Segui a direcção.
Talvez a uns quinze metros, um portão alto, de madeira, compacto, ornado de cantaria granítica, sólida. No vão, um outro homem, forquilha cravada num fardo de palha, movimento vigoroso.
Era o Zé!
Eh Zé, isso vai? Insistia o jardineiro. Claro que vai, Sô Jaquim…, e, se não for…EMPURRA-SE!
E mais que um sorriso, uma sonora gargalhada.
O sorriso de um, a gargalhada do outro. Contagiante. Ouvi, testemunhei, senti.
E recordo. Em memória a captação de um momento de bem-estar assumido sem reservas, convincente, contundente. Simples.
E sempre que por lá passo, vejo a flor que ainda não era, ouço um grito em gargalhada –Eh Zéé…VAI…..VAI!
E associo-me, sem reservas. Também estou bem. Bem comigo mesmo, bem com os outros.
E, do meu interior, uma calma, tranquilidade sem inibição difícil de esconder! Também não a quero esconder. Quero que seja contagiante.

quinta-feira, março 23

Flor


“É uma flor e quem não sabe que é uma flor não merece a vida.

Veste de azul mansinho e simples. O seu enfeite é só a cor.
Há versos na sua maneira de sorrir, que é a sua maneira de olhar.
O seu perfume ninguém o sente, de tão puro: respira-se, existe na maravilha de
pensarmos nele.
É uma flor. Uma flor que havia de vir.
Mas o pobre do Mundo não daria pela sua falta se ela não tivesse vindo.
É uma flor que não dá por si porque ninguém dá por ela.
Uma flor que eu não digo onde está”

Sebastião da Gama

segunda-feira, março 20

e venha a Primavera!

Há relativamente pouco tempo, o meu estado de alma era expresso nestas palavras, nestas imagens. Foram as circunstâncias, a vivência do momento,

Uma nascente de nada,
Um riacho de secura feito tristeza.
Amargo curso
em margem sem margem correndo.
Jorra o nada em golfadas de vazio!
E fica
o raso, o plano, o invisível,
Só demasiado intenso e pleno,
Para quem o
sente.
Mas o sol rasgou o manto de negação e aqueceu o corpo e a alma. Primeiro timidamente, depois intenso.
Nos olhos um novo brilho ou um antigo renovado. A ânsia de uma busca de cor!
E da nascente do nada, a amizade cúmplice, silenciosa, companheira,o desejo, jorram em borbulhões de força, numa ode à vida.

Creio que foi Nietzsche que escreveu. “o que não nos mata…fortalece-nos”
Eu não morri!

PS.
Hoje, da janela do meu quarto, vi-o. Belo, Desenhado. Multicolorido. Hipnótico. Destacava-se no cinzento do céu. É sempre belo o arco-íris! E eu gosto particularmente do verde, verde Primavera, verde esperança, verde música, mar, imensidão!

quarta-feira, março 15

um ponto de vista!

Aos pés, o Douro em uma grande escarpa confinado, serpenteando gigantescamente sereno.
O sol começara a despontar, primeiro nas cúpulas dos pinheiros e eucaliptos das margens e vagarosamente atinge em suaves golpes o rio. Espelha-o!
Nas margens, agigantam-se as árvores, correndo hipnoticamente para a água. Não molham as raízes mas mergulham e balanceiam em movimentos ritmados em gestos de preguiça de seus braços feitos ramos, após a noite dormida.
No dourado espelho, miram-se, aprumam-se. São muitas e a água é uma imensidão de verde-escuro, ramos e folhagens, que se tocam, afagam e sobrepõem.
Cúmplice, o rio aceita contemplativamente o movimento narcisista das suas guardiãs de margens. Preparam-se para o dia!
Mais tarde, quando o astro rei de cansado estiver quase em repouso, será a outra margem, desta vez em espelho de fogo!
E repete-se a cena, abraçam-se os ramos, misturam-se as folhas embalados pela melodia da brisa.
Preparam-se para a noite.
E soltam-se algumas!
E navegam embaladas em projecto de sonho, o mar é seu limite, seu aconchego!

quinta-feira, março 9

agora que ninguém nos ouve...

Que eu sei e sinto é mais do que consigo transmitir.
Gosto de ler, saborear as palavras, absorver os aromas que delas se soltam.
E colorir quadros com várias simples ou sobrepostas em matizes livres.
E imaginar cenários a que me levam as que asas têm!
Tive um professor que para além da actividade pedagógica, era escritor com livros publicados.
Ensinou-me a lê-las com sons, sabores, cores, tacto e movimento. As palavras? Sim, as palavras.
Ninguém coloca uma cebola numa salada de frutas, porque é agressivo, fora de contexto. As palavras também têm a sua essência, há que saber conjugá-las, misturá-las para que soem, exalem, incorporem, tenham sentido, se articulem em harmonia, mesmo que litígio seja a ideia portadora.
Gosto de ler vários livros ao mesmo tempo. À minha cabeceira é vulgar estarem dois ou três.
Divirto-me em exercícios de posicionamento no enquadramento dos contextos.
E troco opiniões com personagens ou cenários...
E dou comigo a querer reescrever as histórias…
E misturo-me com as personagens.
Venero quem me consegue fazer discorrer em páginas sem saber qual o limite.

PS. Já leram “Equador” do M.S. Tavares?

sexta-feira, março 3

transformação

Esculpe-se duramente em sentimento,
Aresta por aresta.
Esboça-se a dor criação de revolta incompreendida.
Toma forma o vulto, definem-se contornos do monstro em bruto.
SOLIDÂO!

Desnuda-se em lascas o maciço,
Rasgam-se sulcos de fogo,
Alisa-se em carícia a superfície,
Contorna-se em afago a curva.
Perspectiva-se!
Projecta-se!
Refina-se!
Um sopro,
VIDA!

quarta-feira, março 1

negação


Ouves?
Ouves o murmúrio do riacho,
A água cristalina serpenteando de pedra em pedra?

Ouves?
Ouves o chilreio dos pássaros em canto sedutor, povoando os arvoredos?

Vês?
Vês a flor silvestre nos delicados e frágeis dedos de criança, de olhos claros?

Sentes?
Sentes a harmonia do casal que de mãos dadas em mágica sintonia
Levita em verde tapete de esperança?

Não!
Não oiço
Não vejo,
Não sinto !
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