Diziam que uma comissão de serviço só estava pronta para começar quando se estava no fim. Na verdade toda a preparação trazida da recruta e especialidade manifestava-se completamente desajustada. Aliás toda a Guerra é indutora de desajustes.
Estabelecido o primeiro contacto com aqueles que em princípio seriam meus companheiros directos por dois anos, encetei uma vida “social” desenvolvida na integração no seio militar europeu, o Batalhão de velhinhos.
Nomes? Não. Sobrenomes decididamente, algumas alcunhas ou até aqueles que assumiam o nome das suas terras de origem (o Fafe, o Elvas, etc.).
Talvez ancestral, estes métodos de aproximação, de inicio de relacionamento. Ou se fala de doenças, no caso presente de aventuras, ou e este nunca falhava, bebiam-se uns copos.
Um almoço abundantemente regado com um vinho tinto “marca branca” gentilmente transportado em bidões de 200 litros e de proveniência duvidosa, preparava a cerimónia de “aceitação”. Umas garrafas de Whisky como digestivo, conversas circunstanciais, um empurrar de copo após copo, como se não mais houvesse dia de amanhã. A praxe, uma outra. Fui aceite, consegui manter-me menos bêbado que alguns!
Prolongou-se. Foi um fim de dia em que rasgos de consciência me castigaram, por me sentir descontrolado, incapaz de, caso fosse preciso não dispor de todas as minhas capacidades.
Irresponsável, gritava-me! Creio que não há mais severo que o nosso próprio grito.
Tomei uma decisão. Não me embebedaria em horas de “serviço”. E o meu serviço acabava às quatro horas da manhã, começava ao escurecer.
Talvez uma semana depois de chegar a Tite, ainda procurava referências, identificações, pessoas, lugares, percebi a diferença de quem chega, o meu caso que quer compreender para agir, e aqueles que já “rodados” agiam mecanicamente porque não precisavam compreender.
Nessa noite cerca das três da manhã uma trovoada fenomenalmente sonora estourou mesmo em cima do frágil telhado. Ergui-me na cama, assustado aguardando não sei quê. Com ajuda de mais um flash seguido de trovão, olhei as outras camas iluminadas. Desertas!
Porta aberta, todo o pessoal num ápice se erguera e correra rumo ao abrigo!
Afinal fora uma trovoada, e se não fosse, disseram-me assim que regressaram…é pá, parecia uma canhoada…era mesmo como um RPG a rebentar… não podes esperar para ver…deixa estar que vais aprender…estes periquitos, rematavam com desdém!
Senti-me mal, diminuído, incapaz, triste. Era evidente…, porque não corri para o abrigo?
Afinal que linguagens eram aquelas?
Ai Lisboa, Lisboa!
Estabelecido o primeiro contacto com aqueles que em princípio seriam meus companheiros directos por dois anos, encetei uma vida “social” desenvolvida na integração no seio militar europeu, o Batalhão de velhinhos.
Nomes? Não. Sobrenomes decididamente, algumas alcunhas ou até aqueles que assumiam o nome das suas terras de origem (o Fafe, o Elvas, etc.).
Talvez ancestral, estes métodos de aproximação, de inicio de relacionamento. Ou se fala de doenças, no caso presente de aventuras, ou e este nunca falhava, bebiam-se uns copos.
Um almoço abundantemente regado com um vinho tinto “marca branca” gentilmente transportado em bidões de 200 litros e de proveniência duvidosa, preparava a cerimónia de “aceitação”. Umas garrafas de Whisky como digestivo, conversas circunstanciais, um empurrar de copo após copo, como se não mais houvesse dia de amanhã. A praxe, uma outra. Fui aceite, consegui manter-me menos bêbado que alguns!
Prolongou-se. Foi um fim de dia em que rasgos de consciência me castigaram, por me sentir descontrolado, incapaz de, caso fosse preciso não dispor de todas as minhas capacidades.
Irresponsável, gritava-me! Creio que não há mais severo que o nosso próprio grito.
Tomei uma decisão. Não me embebedaria em horas de “serviço”. E o meu serviço acabava às quatro horas da manhã, começava ao escurecer.
Talvez uma semana depois de chegar a Tite, ainda procurava referências, identificações, pessoas, lugares, percebi a diferença de quem chega, o meu caso que quer compreender para agir, e aqueles que já “rodados” agiam mecanicamente porque não precisavam compreender.
Nessa noite cerca das três da manhã uma trovoada fenomenalmente sonora estourou mesmo em cima do frágil telhado. Ergui-me na cama, assustado aguardando não sei quê. Com ajuda de mais um flash seguido de trovão, olhei as outras camas iluminadas. Desertas!
Porta aberta, todo o pessoal num ápice se erguera e correra rumo ao abrigo!
Afinal fora uma trovoada, e se não fosse, disseram-me assim que regressaram…é pá, parecia uma canhoada…era mesmo como um RPG a rebentar… não podes esperar para ver…deixa estar que vais aprender…estes periquitos, rematavam com desdém!
Senti-me mal, diminuído, incapaz, triste. Era evidente…, porque não corri para o abrigo?
Afinal que linguagens eram aquelas?
Ai Lisboa, Lisboa!
6 comentários:
Mais um fragmento interessante de um episódio recente da nossa História.
Estou a adorar este relembrar.
Nunca se diz da guerra o quanto baste. É necessário que se fale para que todos percebam o quanto cabimento tem, num cenário em que o indivíduo é empurrado para ele sem saber como nem porquê, aquele poema do maestro Belo Marques que registo aqui:
Enganaram-te meu filho, tu não queiras/levar a dor ao peito de outras mães/em nome de ridículas bandeiras/inglórias fortunas que não tens.
Abraço
Os textos de guerra são textos de vivências intensas e de testemunhos transformados em registos de memórias para que ninguém esqueça o que é uma guerra e o papel de figurante, subitamente investido em lutador, protagonizado pelo soldado indefeso a quem puseram uma arma nas mãos numa altura da vida em que acredita na construção e em que ainda sonha com uma vida preenchida e solidária.
ler-te é conhecer um pouco mais de nós...
aprendo todos os dias coisas novas.
è bom ler-te
beijo meu
(...)
Ah! mas que ingrata ventura bem me posso queixar
Da pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida
(...)
Fausto - O Barco Vai de Saída
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