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Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

terça-feira, dezembro 28

Bom Ano!

E é nesta altura que recebo imensos votos de feliz ano novo, bla, bla, bla.

Também tenho os meus votos.

Desejo que no próximo ano cada um se descubra e viva sem necessidade de fazer da vida uma permanente comparação.

Compara-se o que outro ganha...

Compara-se o que o outro veste...

Compara-se o lazer do outro...

Compara-se o carro do outro...

Compara-se o que o outro faz ou não faz...

Compara-se o que o outro tem...

Compara-se com o que o outro parece...

E nesta comparação permanente assume-se sempre lugar secundário na inovação e autenticidade na gestão dos nossos actos.

Há falta de coragem!

Há muita energia desperdiçada na comparação, uma cómoda satisfação na falta de genuinidade, nesta cultura da mediocridade.

Ousemos corajosamente concordar, discordar, manifestar, abanemos em definitivo este andar amorfo pela vida.

A VIDA!

Que 2011 seja o início de uma outra forma de estar. Agarremos a oportunidade de SER!

terça-feira, dezembro 21

Alguém se lembra porque Natal?

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.

-- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!

- Está bem, eu sei!

- E as garrafas de vinho?

- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?

- Não sei, não sei...

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!

Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.

E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.

A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!

Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!

(João Coelho dos Santos
in Lágrima do Mar - 1996)

O meu mais belo poema de Natal

domingo, dezembro 19

Erva de Natal



Tropeçaram meus olhos na sua invisibilidade. A Natureza criara os seus enfeites. Será o que apelidam de Natal?

domingo, dezembro 12

O problema de um é problema de todos!

Lição do Ratinho

Um rato, ao olhar pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e a sua esposa a abrirem um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali. Ao descobrir que era uma ratoeira, ficou aterrorizado.
Correu ao pátio da fazenda, advertindo todos: - Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa !!

A galinha disse: - Desculpe-me Sr. Rato, eu vejo que isso é um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

O rato foi até junto do porco e disse: - Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira !

- Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranquilo que o Sr. Será lembrado nas minhas orações.

O rato dirigiu-se à vaca. E ela disse-lhe: - O quê? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não !
Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira a apanhar a sua vítima.

A mulher do fazendeiro foi ver o que tinha acontecido. No escuro, ela não viu que a ratoeira tinha apanhado a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher... O fazendeiro levou-a imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Todo a gente sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou no seu cutelo e foi tratar do ingrediente principal. Como a doença da mulher não passava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco. A mulher não melhorou e morreu.
Muita gente veio ao funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar toda aquela gente.



Moral da História:
Da próxima vez que ouvires dizer que alguém está diante de um problema e acreditares que o problema não te diz respeito, lembra-te que quando há uma ratoeira na casa, toda a gente corre risco.




domingo, dezembro 5

Uma luta, uma vitória!

O Quintino era um miúdo, na altura com doze anos, quando estive em Tite, na Guiné.
Acarinhado pelo pessoal do abrigo anexo ao meu obus, lavava os pratos, passava a vassoura no espaço dormitório, sala, cozinha, no abrigo, camas de ferro umas em cima das outras, ganhava uns trocos.
Saí de Tite e perdi o contacto.
Na semana passada, através de um ou outro contacto obteve o meu número de telefone. Marcámos um almoço, encontrar-nos-íamos junto ao teatro D. Maria. Curiosamente, e apesar de passados tantos anos, o reconhecimento foi fácil.
Foram quase duas horas de amena cavaqueira, o miúdo tinha crescido!
Veio para Portugal em 1986, fez cursos de soldadura naval e percorreu meio mundo. Argentina, Brasil, Alemanha, Bélgica, Congo, sempre com contratos de firmas portuguesas ligadas à sua arte. Presentemente está na Inglaterra para onde voltou hoje domingo. Tem a família lá.
Estava contente, particularmente contente. Obtivera a nacionalidade portuguesa o que lhe permitia de novo trabalhar na sua área sem constrangimentos de cidadão extra comunitário.
No Congo, ganhou dinheiro, disse-me. Entre pagar a casa em definitivo que possui no Laranjeiro e investir na sua terra, preferiu esta opção. Comprou dois Mercedes para táxi e um barco para transporte de pessoas e bens, em Bissau.
A experiência não resultou pois como estava na Europa, não podia acompanhar o negócio. Perdeu tudo. O homem de confiança, não foi. Ficou-lhe o ensinamento, a realidade. Não voltaria a investir da mesma forma na Guiné!
O pai ainda está vivo, com mais de noventa anos. Coisa rara em África, como me afirmou com um sorriso.
Recordou um simples episódio que não me lembrava. Quando vim de férias, levei-lhe uma bolsa da TAP com camisolas. Nunca esqueceu...
Narrou-me os horrores post independência. As irracionalidades da guerra. Os alimentos deixados pelas tropas portuguesas foram atirados ao rio Geba insinuando estarem envenenados. Houve valas comuns. Acontecera o que temia e tantas vezes me questionava. Soldados africanos que serviam nas fileiras do exército português foram executados, alguns meus soldados. Era um miúdo, a memória fora escrita com estilete de fogo...
À dificuldade de entendimento entre o povo Guineense , deu-me o seu ponto de vista, válido, nunca pensara nisso. Já viu, Faria, que com mais de 20 etnias ao governo Português da altura interessava-lhe acentuar as diferenças para que nunca fossem um Povo? Dividir para reinar, pois...
No fim do almoço, um abraço sentido, um até um dia.
O Quintino foi protagonista de umas páginas mais sombrias dos episódios da minha vida.
Gostei de estar com ele. Num português correcto, num olhar límpido, a tranquilidade, a ausência de rancor, uma esperança num amanhã digno, uma Confiança no Homem.
Um lutador, este miúdo!
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