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Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

sexta-feira, junho 23

adeus Zé!


Gosto do amanhecer, na rua.
Cada dia que nasce, uma intensa e imensa energia emerge e com ela sinto-me renascer, na Luz, depois no Sol!
Tomei como rotina diária a busca de um equilíbrio físico e emocional, caminhando cerca de hora e meia. Caminho, não corro. Ao longo da caminhada sou desperto pelo voo imprevisto de um pássaro, deixo-me embalar nos braços de perfiladas árvores, esguias, de um verde compacto moldado em harmonioso compasso por uma brisa. Espreguiçam os olhos em relvado listados por trabalhos inacabados de “roçadoras”, alternado por verdes de várias plantas.
No ar, cheiros; amontoados de ervas daninhas, relva cortada; terra molhada; flores; a fresca brisa da manhã.
Vida!
Ontem tive conhecimento da morte de um tio. Triste notícia.
A morte, a definitiva ausência física de alguém!
Costuma-se dizer que só para a morte não há solução. E quando ela é solução!
Adeus Zé, libertaste-nos do teu sofrimento.
Nós, de quem gostavas tanto, nós, que tanto gostámos de ti, continuaremos a entoar o cântico que tanto apreciavas, o da VIDA, desta vez em memória
.

terça-feira, junho 13

Recordando!

E eu fui lá.
Procurei estar cedo, fora de grandes confusões de transporte, sem grandes movimentos de massa, até porque não me sinto bem nas multidões.
Cheguei à boca do metro, estação de Arroios duas horas antes da hora prevista. Já muitas bandeiras, já algum movimento. O trânsito fluía e perfilavam-se ao longo da rua, militantes, não era difícil identificá-los, e outros como eu, procurando o passeio ensombrado pelas casas. A temperatura não era sufocante mas o sol escaldava.
Caminhei ao longo da rua cerca de duzentos metros e numa esquina de uma rua transversal apoiei-me numa placa indicadora de trânsito. Estaria menos envolvido pela multidão, pensei. Engano, bastaram 10 minutos para que me sentisse completamente encastrado tal como uma ilha no mar, um mar de gente. E vozes, e contos, e recordações. Estava sozinho e bebia aqui ou ali os temas de conversa. Recordações, vivências, testemunhos ou simplesmente palavras. Velhos, muitos, é verdade. Mas menos velhos como eu que ainda não conseguem recordar com aquela intensidade, ou simplesmente muitos daquela geração onde o cinzento prateado já vai aparecendo aqui ali num fio de cabelo ou barba. E jovens, que os teria levado a estar presentes? Os familiares, a militância ou simplesmente a sedução de, tal como eu, participação activa de um episódio de história? Não sei, mas independente da dúvida, estavam muitos.
Confesso que nunca tinha estado entre tantas pessoas, aliás tenho uma certa fobia da multidão. Mas não podia deixar de estar presente, também se me sentisse mal, podia retirar-me rapidamente por uma das ruas laterais.
E o movimento aumentou. E começou a polícia a ensaiar operações para primeiro disciplinar o trânsito, depois limitando a circulação, para finalmente cortá-lo por completo. E chegava cada vez mais gente e pouco a pouco os passeios transformaram-se em molduras humanas, compactas, coloridas. E as janelas iam-se abrindo, assolavam cabeças e também às varandas residentes ocupavam lugar privilegiado de observação. Uma bandeira aqui, um pano ali, vermelho pois claro.
Começaram-se a esticar os pescoços no sentido da Praça. Já chegou, ouviu-se. Sim, estou a ver umas luzes intermitentes lá em baixo e um carro funerário.
De súbito, como uma gigantesca onda a multidão caminhava pelo alcatrão. As palmas, os gritos de ordem e as cantigas ecoaram desencontrados, provocando um movimento quase conflituoso, assimétrico, imenso, intimidador.
Passa por mim o carro funerário e sem me aperceber subitamente sou envolto por uma multidão em movimento. Momento de pânico, agarro-me firme e ansiosamente ao ferro da placa. PCP...tatata..Cunhal....Grândola Vila.....Avante....tatata...amigo, PC ...la Morena...ta ta. migo...Camarada.....tatata...e como uma onda em movimento os sons ecoam distantes ou próximos, enérgicos ou suaves, harmoniosos ou com vigor. Arrepiante!
Olho a multidão que desfila, e a meus olhos, algumas figuras conhecidas da praça pública diluídas naquele bloco caminhante compacto. E há punhos no ar, e cravos, e olhos lacrimejantes, e rostos fechados e olhares respeitosa e solidariamente ausentes.
Petrificado, procurando absorver o mais que pudesse do momento, mantive-me até ao fim. E nunca mais acabava, o rio humano rumava ao Alto.
E as vozes...e as cantigas..., as palmas..., e as palavras de ordem, e as vozes...as cantigas....as palmas....e as palavras de ordem, e as vozes...as cantigas....
À noite, já em casa, balançava como se acabasse de alcançar terra após uma viagem de barco e ouvia lá ao fundo o murmúrio da onda!
Eu estive lá, e não me arrependo!
Junho/2005-06-16
AF

segunda-feira, junho 12

com os meus botões...

Claro que quando se vive, ou se quer viver, não se anda com um sorriso permanente desenhado nos lábios, não é óbvio que se ande de bola vermelha no nariz!
E há muito que nos constrange, nos oprime, se aloja num cantinho da nossa mente reservada à suspeição, nos perturba, nos inquieta.
Claro que tropeçamos dia a dia com a tristeza,
a fealdade,
a injustiça,
arrastamos bem definidos fragmentos de memória,
fingimentos,
frustrações,
amores secretos rejeitados, segredos…
Mas também há o sorriso, o gesto, o dar, o receber, as bênçãos, os amanhãs que se realizam em cada minuto.
Memória, memórias…

É um todo. Diversificado, mais ou menos intenso, mas pessoal. É o que permite ser diferente, o que permite ser identificador.
Gostar, gostar de, indiferente de receitas, de proibições ou mesmo de retorno. Gostar em público, em segredo, assumir desafios mais que com terceiros, connosco mesmos.
E desejar, desejar sempre sem tempo, sem limites.
Auto estima? É pouco. Goste-se, goste-se mesmo sem falsas restrições. E assuma-se.
Feio? Pois serei o mais belo, mais perfeito feio.
E serei eu, baixo, alto, gordo, magro, louro, moreno.
E sou eu!
Claro que quando se vive, ou se quer viver, não se anda com um sorriso permanente desenhado nos lábios, não é óbvio que se ande de bola vermelha no nariz!
Mas há que permitir abrir o coração e deixar que a alegria nos toque, nos beije nem que acidental seja, goste, repita e volte sempre!

terça-feira, junho 6

pessoal



Ontem, 1ª segunda-feira do mês teve lugar mais um jantar de Madeirenses, em Lisboa. Este evento há já algum tempo que se realiza mas só agora é que participo.
Curioso este envolvimento, o olhar nos olhos que só em alguns se identifica. Diferentes, vividos, chamas que se reacendem. E surge o calor. À volta de uma outra bica, o retomar de uma conversa interrompida há dez, vinte ou trinta anos.
E nada se perdeu, um só espera aí…diz lá!
Nas palavras avidez, no ar mística amizade, aquela genuína, intemporal.
Estes encontros gastronómicos servem de pretexto para evocar fatias de história, onde alguns foram protagonistas. Testemunhos, vivências que se transmitem.
O deste jantar, foi a experiência há muitos anos de uma escola sem paredes, sem edifício, na Ribeira Brava. O testemunho foi passado pelo hoje conceituado escultor Francisco Simões, então director da escola.
E dei comigo a pensar o quão gratificante deve ser participar na História, de uma forma tão intensa, não espectador, não figurante, mas actor.
E quanto podemos envolvermo-nos directamente na Vida!
E quanto nos acomodamos e deixamos a Vida passar por nós!
E quanto de uma forma conformada nos limitamos a somar anos à Vida!
E quanto quase nos envergonhamos de sonhar!
E que medos temos na partilha!
E quanto nos isolamos!
E quanto temos dificuldade em ceder!
E quanta irracionalidade!
E tanto que temos a aprender uns com os outros!

Gostei do convívio de ontem. Gostei de rever Pessoas. Gostei do que me fez meditar esse todo.
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