Apetece-me falar da Vida, o todo – nascimento, vivência, morte!
Hoje começo, pelo fim, ou melhor pela última parte da Vida.
Tinha dezasseis anos quando em coma entrei no Hospital, numa sexta feira. Uma nefrite empurrara todos os valores possíveis e não desejáveis para os máximos e o resultado foi aqueles 48 dias de internamento. Boa experiência, boa recordações! Como é possível? Um dia pormenorizo!
Já era residente daquele hotel havia uns vinte dias, quando para a cama ao lado entrou um homem, talvez entre os cinquenta e os sessenta. Entrou, não, colocaram-no!
Não falava, não comia, nem forças tinha para se queixar. Um cancro roía-lhe silenciosamente a garganta.
Diariamente as equipas de enfermagem rodeavam-lhe a cabeceira, trocavam os boiões de soro, sempre num silêncio diria que senão respeitoso, misericordioso.
Na mesa de cabeceira, um copo de água e uma espátula envolta em gaze. Com suavidade via-os mergulharem a espátula e embebida passarem nos lábios do homem. Era o único “gosto”, sabor que tinha.
Um dia, olhando para o meu companheiro, lábios sequiosos,secos, peles soltas, levantei-me e, como vira tantas vezes fazer, mergulhei a espátula e misto de receio e entrega, toquei-lhe ao de leve humedecendo-lhe a boca.
Os olhos. Nunca os tinha visto tão perto, tão nítidos. Encovados, doridos, cansados, transmitiram-me gratidão, Paz.
Morreu poucos minutos depois! Foi a minha primeira apresentação ao vivo, à morte!
Durante algumas horas permaneceu isolado por um biombo colocado à volta da cama. Era como se quisessem passar a imagem que ali não estava. Não se via, não estava!
Ainda permaneci muitos dias naquela enfermaria. A outra cama foi reocupada.
Em memória aquele olhar, o sentimento expresso sem palavras. Recordo-o, em PAZ
Hoje começo, pelo fim, ou melhor pela última parte da Vida.
Tinha dezasseis anos quando em coma entrei no Hospital, numa sexta feira. Uma nefrite empurrara todos os valores possíveis e não desejáveis para os máximos e o resultado foi aqueles 48 dias de internamento. Boa experiência, boa recordações! Como é possível? Um dia pormenorizo!
Já era residente daquele hotel havia uns vinte dias, quando para a cama ao lado entrou um homem, talvez entre os cinquenta e os sessenta. Entrou, não, colocaram-no!
Não falava, não comia, nem forças tinha para se queixar. Um cancro roía-lhe silenciosamente a garganta.
Diariamente as equipas de enfermagem rodeavam-lhe a cabeceira, trocavam os boiões de soro, sempre num silêncio diria que senão respeitoso, misericordioso.
Na mesa de cabeceira, um copo de água e uma espátula envolta em gaze. Com suavidade via-os mergulharem a espátula e embebida passarem nos lábios do homem. Era o único “gosto”, sabor que tinha.
Um dia, olhando para o meu companheiro, lábios sequiosos,secos, peles soltas, levantei-me e, como vira tantas vezes fazer, mergulhei a espátula e misto de receio e entrega, toquei-lhe ao de leve humedecendo-lhe a boca.
Os olhos. Nunca os tinha visto tão perto, tão nítidos. Encovados, doridos, cansados, transmitiram-me gratidão, Paz.
Morreu poucos minutos depois! Foi a minha primeira apresentação ao vivo, à morte!
Durante algumas horas permaneceu isolado por um biombo colocado à volta da cama. Era como se quisessem passar a imagem que ali não estava. Não se via, não estava!
Ainda permaneci muitos dias naquela enfermaria. A outra cama foi reocupada.
Em memória aquele olhar, o sentimento expresso sem palavras. Recordo-o, em PAZ