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Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

segunda-feira, outubro 12

album (parte dez)

Estávamos em Janeiro, o ano de 73 começara.

O Natal passara-se sem afectos, cruel. A memória invadia-me em “flash”, os rostos, os sorrisos, os momentos distantes. Uma revolta imensa tomava posse da mente, do corpo. O álcool, sempre o álcool, a muleta! Nem embriagado nem sóbrio. Meio estado, perigosamente consciente.

As noites eram sempre iguais. Prevenção, mosquitos, horas à espera que algo acontecesse ou melhor, desejo que não acontecesse.

Ouvia-se o silêncio, sentia-se a noite.

Entre um bocejar e outro, uma troca de palavras em fula, algo para mim imperceptível. Desistira de perceber. O crioulo já me dava demasiado trabalho...

Um rádio ao ombro de um dos meus homens, emitia música africana...

De repente um grito, e outro e outro, pulos de contentamento como se um golo da equipa preferida fosse noticiado...

Despertei do meu estado ausente, questionei. Amílcar Cabral morreu, foi assassinado! E saltavam e riam, davam largas ao seu contentamento.Senti frio. Desperto, não consegui evitar o berro. CALEM-SE!

Na sua simplicidade a conclusão fora imediata. Se morrera, a guerra acabara!

Por momentos, elevando a voz, esgrimi os meus argumentos. Vocês são parvos? Não vêem que a guerra não é feita por um só homem? Como podem sentir-se felizes pela morte de um líder que acredita na libertação do povo que vocês fazem parte? Calaram-se mas não fiquei convencido de terem compreendido, aliás penso que não me perceberam.

Uma súbita vontade de vomitar, o desejo de mais um golo de qualquer coisa, desde que me ajudasse a sair dali!


terça-feira, outubro 6

Salamanca














Este fim de semana ousei sair! Há cerca de dois anos, o breve contacto com Salamanca despertou-me o “apetite”.
Partimos sábado e regressamos na segunda-feira.

Perdi-me gostosamente nas vielas históricas, tropeçando a cada esquina com monumentos de há muitos séculos.

E história...
E lendas...
E pessoas.
Não sei se em toda a Espanha se vive os fins de tarde e princípios de noite assim. As ruas pejadas de gente, sorrisos, um desfilar de coloridos, novos e velhos, os jardins e espaços públicos desfrutados com muito gosto por três gerações. É um culto, uma forma de estar!
Excepcional!
Estou em crer que o índice de depressões será muito inferior que em Portugal. Deixo a análise científica para os especialistas, fica o comentário do leigo!
Cruzamo-nos com casais que no mínimo teriam setenta e muitos anos, bebés cantarolando enquanto não adormecidos nos carrinhos, parques infantis cheios de gargalhadas das crianças e adultos.
Questionei-me. Não teme esta gente sair à rua quando a noite já envolvia as luzes? Porquê não?
Penso que o colectivo é muito forte, dissuasor de anormalidades...
Nas ruas que desaguavam na “Plaza Mayor” um caudal de gente, sorrisos! “ 21 horas, domingo à noite!
Nas esplanadas famílias e amigos confraternizavam. Em pleno centro da praça, grupos de jovens sentados no chão...
Diferente, muito diferente, desculpem-me o meu provincianismo!
Puxando pela memória encontrei uma certa analogia do modo de estar no Funchal, há muitos anos, mesmo há muitos. Ao fim da tarde de Domingo passeava-se na Avenida do Mar, comiam-se gelados em família nas esplanadas...permanecia-se dentro dos automóveis a ver, a olhar, simplesmente a lavar a vista. Inspirava-se a energia para a semana.
Tempos que foram, aqui, tempos possíveis ainda em Espanha!
Bom, as expectativas foram excedidas!!!
Recomendo.
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