Acerca de mim

A minha foto
Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

sexta-feira, abril 25

25 de Abril

25 de Abril! Quando aconteceu, ainda estava na Guiné, e mesmo depois ainda sofremos ataques de artilharia! Recordo-me, ouvidos colados aos rádios em busca de informações de esperança! Nada se sabia ao certo, as notícias eram tão contraditórias, o então Governador da Guiné, Bettencourt Rodrigues enviara ordens a todos os aquartelamentos no sentido de acreditarem os militares, que nada se passava na chamada Metrópole.
Vivi pois esta data de uma outra forma, 2 anos de guerra passados, de um misto de regozijo e esperança. Regozijo porque finalmente o Povo ensaiava libertar-se, esperança que acabasse aquela estúpida guerra onde só da minha casa três irmãos haviam sido obrigados a participar. Que outra razão não houvesse, só essa me chegava!
Hoje, passados tantos anos, não comemoro aquele dia, mas pratico o que me foi facultado por ter existido aquele dia. Tornei-me militante da justiça, da participação cívica, do acto de ser solidário, do testemunho de atitude!
E há ainda quem não tenha entendido, ainda há quem nada sabendo de tudo insinua saber...
Hoje, fui glorificar, a minha tranquilidade, à terra, às veredas; em meus olhos guardei a beleza selvagem das flores, inspirei os aromas, deixei-me estar...em paz!

domingo, abril 20

Referências!



São-me necessárias, como a grande parte da população, maioritária adulta, envelhecida.
Tenho dificuldade em deixar de exercitar o que sempre fiz durante a minha vida, o culto do colectivo, o respeito pelo Outro, a luta pelos ideais, a prática da solidariedade!
Somos um Povo, com a nossa assinatura, com os defeitos e virtudes que arrastamos ao longo de séculos, com a nossa personalidade, com um valor único no mundo, a generosidade!
Haja quem nos explique para abraçarmos projectos com entusiasmo incomensurável. Deixem-nos envolver como parte activa na construção de um futuro, não queiram impor o que acham de melhor. Com imposição, nada se assume, se interioriza, subjuga-se. E na subjugação existe sempre a chama da revolta, da Liberdade.
Somos Povo, diluem-nos entre massas anónimas, amorfas, inertes, estúpidos!
Eu, como tantos da minha geração que aprendemos a lutar por ideais, sentimo-nos quase no limiar do dispensável, marginalizados, só porque ousamos sonhar, teimamos existir, pensar, questionar e optar.
É urgente contrariar esta máquina fria calculista dos senhores do poder instalado! Neste e noutros países é necessário e urgente acreditar, que na Educação, na Saúde na Justiça e em tantos outros sectores só com o Indivíduo se alcança o progresso!
Neste tempo de exibições narcísicas, de ostentação de poderes e riquezas, de criação de necessidades consumistas, ser-se atento, coerente, solidário, é ser-se resistente, referência!




terça-feira, abril 15

album (parte sete)

Mamadu Seidi era um Homem Grande em Tite. Não que fosse corpulento. Ser Homem Grande era ser considerado, respeitado, um estatuto de venerável.

A sua idade, nunca soube ao certo, mas deveria andar entre os sessenta e os setenta.

A sua tabanca era passagem obrigatória no caminho de um dos obuses onde fazia prevenção nocturna, a sua companhia, obrigatória.

Varias foram as noites no seu alpendre, oferecendo-me um banco tosco, uma amena cavaqueira. Da guerra, das suas experiências, da vida e sua concepção. Respeitava-me, devolvia-lhe esse sentimento. Noites quentes, escuras, palavras pausadas, silêncios profundos de entendimento e partilha, sons cientificamente identificados de bicho ou geograficamente situados se de rebentamentos longínquos.

Anos atrás, Mamadu era guia das tropas portuguesas, pisara uma mina, ficara sem o pé. Como era um homem considerado pelas forças portuguesas, foi evacuado para Bissau e posteriormente para Lisboa. Fez a recuperação no Alcoitão.

A sua narração do contacto com Lisboa era de uma simplicidade e autenticidade enorme, um deslumbramento! Recordo a descrição dos prédios, “tabanca sobre tabanca”, e os carros, as pessoas, o ritmo da capital. Nunca esquecera!

Apesar de incapacitado, apesar de recordar o sofrimento, não transmitia amargura. Tranquilidade, isso sim.

À luz difusa de um candeeiro a petróleo, exibia com orgulho o cartão da União Nacional e as listas de contactos de Generais e altas patentes militares. Alguns tinham sido seus cicerones em Lisboa.Olhava, respeitava! A minha opinião...guardava-a para mim!

Mamadu tinha dois filhos, ambos militares do meu pelotão de artilharia. Mamadu, quarentão, e Abdul, ligeiramente mais novo. Dois filhos de duas mulheres em comunhão de espaço e afecto.

Com orgulho e ternura, falava-me dos dois filhos. Sim, porque isto de afectos e sofrimentos,mesmo em outras cultura, não há fronteiras.

Apreendi uma filosofia de vida muçulmana, simples, exigente, aprendi humildemente a respeitar, devolvi o respeito!



terça-feira, abril 1

estou grato, sinto-me bem!


E foram chegando! Um olhar abrangente, tímido...
O Zé, o Rui, a Helena, o Luís, todos...
A mim cabia-me a tarefa de recebê-los, transmitir-lhes tranquilidade, respeito.
Cada um à sua maneira, posicionava-se, expectante.
Setenta e seis, setenta e três, sessenta e muitos anos, e outros mais de igual peso de vivências.
Pessoas. O meu campo de actuação preferido e eleito!
Falo-vos do meu projecto de sensibilização à informática.
A minha inquietude levou-me a apostar nisso, a minha teimosia à desestabilização de mentalidades junto a autarquias. E começamos a viagem imparável a partilha de sorrisos em sedução de novas paragens.
Estou grato, sinto-me bem, invejosamente bem!
Vale o sorriso, o brilho adormecido de olhos muito vividos.
O Sol brilha, o céu azul!
No meu percurso, movi nuvens, de anil tingi o firmamento, sinto-me em paz, tranquilo!
Sorte? Empenho-me esforçadamente para a merecer, para a criar!




______________________________________________