Acerca de mim

A minha foto
Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

terça-feira, dezembro 18

começar o dia!

Anteontem, saí ao encontro da manhã. Pequeno almoço tomado, máquina fotográfica à mão, deixei Sócrates, procurador de Justiça, treinadores, jogadores, padres e outros a falar pró-boneco, rodei o botão da rádio e fui purificar os pulmões, a alma. Não digo onde estou! Mas partilho um pouco as cores, as veredas, a temperatura,a descobertas,o entusiasmo!
Um bom dia, bem estar, onde quer que estejam!










sexta-feira, dezembro 14

album (parte seis)

Quando cheguei, o Faustino avisara-me que normalmente uma semana após o pagamento do vencimento aos soldados Guineenses, eles pediam-lhe dinheiro. Diziam ter gasto todo.
Os soldados eram na maioria “profissionais” da guerra. Vinte e muitos, trinta e até quarenta anos. Era sem dúvida uma promoção socio-económica ser-se militar do exército Português e sendo de Artilharia permitia-lhes ter a família por perto.
Mudam-se os tempos…
Hoje procuram-se igualmente proventos através da guerra. Não vão os militares portugueses para a Bósnia, Afeganistão, etc., etc? Não são voluntários? Que os move? Curriculum? Dinheiro, muito dinheiro, um sintoma da nossa crise social!
Uma semana antes de receber o dinheiro dos ordenados vindo de Bissau, reuni o pelotão.
Disse-lhes que também recebia parte do meu vencimento ali, e que não queria continuar com o sistema de empréstimo. Propus-lhes que dividissem o que recebiam por mês por quatro semanas, e que poderiam dar-me a guardar se achavam ter dificuldade em o gerir.
Alguns aceitaram de imediato, outros, mais desconfiados só um ou dois meses depois. Ali transformava-me mais que num “banqueiro”, um orientador de economia doméstica. Senti-me honrado com a confiança deles, senti-me grato quando ao fim do mês alguns me pediam para guardar algum dinheiro que sobrava. E havia duas folhas, uma na minha posse, outra na deles. Era com orgulho que apresentavam o papel para acrescentar sempre que poupavam. No papel os cifrões, nos olhos um brilho especial, quase pueril. Nem se apercebiam o quão feliz me sentia em os ajudar a Crescer, acompanhando-os.
Descobria que mesmo em guerra, mesmo em condições adversas poderia exercitar o Ser.
Quando deixei estes homens, todos tinham as suas poupanças, uns mais que outros, mas todos aprenderam ser possível!
Sentia que não era militar, estava militar!
E muito trabalho havia para fazer. O terreno era fértil!
E há quantos anos estávamos em África? Quinhentos?
Muita aculturação, muita europeização, muita ausência de respeito pelo Homem e Culturas. Ora se impõe, ora se puxa, ora se empurra, poucas caminhadas a par.
Ter a maioria de africanos no meu pelotão, privar diariamente com as suas alegrias e tristezas, ensinou-me também a crescer, cimentando a formação trazida de casa, aprendida com o testemunho dos meus pais e felizmente continuada nos bancos de escola.
E se para além de agente da guerra deixasse uma assinatura do civil que teimosamente fervilhava, germinava inquietude dentro de mim?
Seduzia-me a ideia…
_____________________________________________________

quarta-feira, dezembro 12

coisas simples!



Há dias, numa terra ainda simples, um simples homem cavava uma horta simples.
Enérgico enterrava a enxada profundamente. Parou à minha passagem. Olha, disse-me, doem-me os “aços”, “assas” a tua “aquina” aqui, percebi através das palavras articuladas mas de difícil apreensão, causa de uma deficiência, ajudada por mímica efusiva.
O homem simples olhos claros, tez morena, sorriso amplo, dentes descuidados, sorria…
Claro que sim Augusto, daqui a pouco, daqui a pouco, acenei-lhe.
E passei a minha simples moto enxada naquele simples terreno daquele homem simples que trabalhava no que havia de ser uma horta simples!
Rasgando o castanho da terra, sulcos de satisfação em sorriso no olhar do Augusto!
-Tá “ooom”, e ensaiava duas cavadelas enérgicas com a enxada, aprovando o meu trabalho. Aqui, vou pôr “aios”, aqui “abiça”, dizia-me!
E eu ali semeei afectos, partilhei o simples que tinha. Não foi preciso esperar pela germinação, colhi ali mesmo, de imediato! Estou mais rico. Acreditam?
Sim, sei que sou um privilegiado em viver estes acontecimentos.
Se calhar, há-os em qualquer lado. Um qualquer terreno, um qualquer Augusto, uma qualquer espécie de moto enxada!Manifestam-se de variadíssimas formas. Há que estar atento e disponível SIMPLESMENTE!
______________________________________________

terça-feira, dezembro 11

mensagem para a época



"Passear vagarosamente por ruas animadas é um
prazer muito especial.


A pressa dos outros lava-nos como um banho na rebentação das ondas.”


Franz Hessel

sexta-feira, dezembro 7

quarta-feira, dezembro 5

album (parte cinco)

Tite era como mais tarde vim a constatar uma zona estratégica avançada de defesa de Bissau. Se Tite “embrulhava” como vulgarmente era dito quando atacada com peças de artilharia e morteiros, Bissau não ficava indiferente, ouvia-se.
A disposição dos pelotões de artilharia em toda a Guiné pretendia cobrir todo o território, num fogo cruzado, uma malha em que a maior parte dos aquartelamentos estariam integrados. Em Tite, os 105, com carga máxima atirariam granadas a uma distância de sensivelmente 11 km. Outros, 140mm ou 114 estavam espalhados pelo território, levavam a morte mais além. Por vezes as estratégias dos senhores da guerra rodavam os pelotões de Artilharia consoante as necessidades de cobertura ou intensidade de acções de ataque do PAIGC (nessa altura ainda era o partido comum para independência da Guiné e Cabo Verde). A verdade é que a manta por vezes era curta. Puxava-se de um lado para cobrir áreas, destapava-se do outro lado.
Batiam-se zonas, não alvos. Durante algum tempo esta não visão dos estragos que se fazia à distância serviu de blindagem à intranquilidade da minha consciência. Olhos que não vêem, coração não sente, diz-se. Neste caso, e comigo, não foi bem assim, não foi!

Havia uma capela católica, apostólica romana, onde o capelão se esforçava por não perder os hábitos de celebração e pregava a palavra do Senhor aos militares e também à população!
Segundo ele, fizeram-se algumas salvações de almas, baptizaram-se crianças e adolescentes. Mal? Essa “guerra” seria bem menos prejudicial do que a que as populações estavam sujeitas.
Também havia um espaço de culto muçulmano. No princípio, um estranho “linguajar” ouvia-se do alto da torre improvisada, às horas de culto. Depois deixou de se estranhar, pertencia a uma realidade de coexistência.(Obs. Não tenho conhecimento que algum militar europeu se tivesse convertido, enquanto lá permaneci!)

O posto administrativo era sem dúvida o único edifício digno desse nome. O administrador era cabo-verdiano. Depois da minha experiência com a população Guineense, penso que a escolha era politicamente estratégica: dividir para reinar!
Ao sair da porta de armas, o único estabelecimento de filosofia centro comercial da actualidade. Bugigangas, tecidos, sabões, açúcar, bebidas etc. Ao lado um “restaurante”,
De diferente, a compra de arroz e “mancarra” (amendoim) aos produtores.
Lembro-me venderem toda a produção para pouco tempo depois comprarem muito mais caro para sua subsistência. Lembro-me ter visto vender açúcar, não aos gramas mas às colheres de sopa rasa, 1 peso, o equivalente a 1 escudo.
Exploração? Não, observação tendenciosa da minha parte certamente!
_____________________________________________

terça-feira, dezembro 4

lamento surdo!

_________________________________________

Majestosa, brilhante, hipnótica, a Lua.

Sinto frio.

Ensurdecedores apelos tocam a alma!
Silêncios…
Braços esguios despojados de roupagem, de afecto,
Súplica...
Tanto, demasiado,
Nada!

Vem aí o Natal!O quê?AH…pois!

________________________________________________________

PS. Aceitei um desafio:Simples – basta ir ao site www.fecongd.net até ao dia 10 de Dezembro.Lá, escolhe os Presentes que quer oferecer e faz a sua encomenda. Receberá então uma referência Multibanco com a qual poderá efectuar a sua compra em qualquer caixa Multibanco. Dias mais tarde irá receberem casa um certificado em formato de postal para oferecer ao amigo emnome de quem comprou o presente.

segunda-feira, dezembro 3

Um bago de afecto!


Decorreu este fim-de-semana mais uma recolha de alimentos do Banco Alimentar. Tal como o ano passado, (http://baurecordacoes.blogspot.com/2006/05/vestir-camisola.html), envolvi-me!

A minha postura perante estas instituições é crítica, responsavelmente crítica.
O Banco Alimentar, as Equipas de rua de distribuição de alimentos aos sem abrigo, as Equipas de rua das Irmãs Oblatas, entre tantas outras são Instituições e acções, decididamente não deveriam existir.
Contra quem me devo insurgir, contra estas iniciativas ou contra quem provoca a necessidade de sua existência?
Não tenho dúvidas de que lado estou, mas não posso ficar indiferente.

A minha escolha é participar e no campo agir, apoiar, criticar, mas nunca ficar num diz que diz, sem nexo nada fazendo.
Já dei nesse peditório da crítica sem fundamento. Cresci, estou mais exigente.


Aproxima-se a época banalmente apelidada de Natal.
Se alguém se der ao trabalho de procurar a origem, descobrirá que antigamente estava ligada ao conceito de família, de Paz, de concórdia.
Arcaísmos!

Mas eu continuo a ser um Homem de esperança, de convicções, asseguro as minhas enquanto vivo, continuarei enquanto conseguir passar o meu testemunho, primeiro aos meus filhos, depois a quem me aceitar!
SINTO-ME BEM!


______________________________________________