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Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

terça-feira, setembro 11

porque há memória!


Carrossel

Uma neblina permanente turva-me o olhar, um frio cortante invade-me a alma. Caminho, vagueio, em movimentos mecânicos, sem rumo, nem destino, sem querer. Caminho, caminho, alheio a tudo e a todos, marchando ao som dos meus próprios passos. O relógio marca-me os tempos das tarefas, e como robot, executo-as. Ainda me empenho, procuro a eficácia mas sem alegria. Sinto-me vazio, árido, animicamente enlutado.
Tal como actor de um carnaval de Veneza, assumo a máscara e movimento-me. Inexpressivo mas sempre procurando estar em cena. Alheio, deixo-me levar pelos aplausos ou pateadas. Não me impressiona o efeito. Neste momento é preciso e urgente estar em cena independentemente da impressão causada no público.
Somo horas, dias, e tudo é igual. A rotina domina-me e não há desejo de inovação que me estimule. Aguardo as circunstâncias e que elas me encaminhem para qualquer estado. Sem vontade crítica, executo, executo, não questiono , nem inovo.
Tempo, mais tempo, as horas passam-se e nem me importo se tarde ou cedo. Calcorreio um trajecto já traçado, e nem me interessa onde me conduz a rota. Avanço quando me ordenam, paro quando não tenho obrigatoriedade.
Onde pára a minha iniciativa, a entrega e o desejo da diferença?
Já não vale a pena! Dia após dia subjugam-me os ponteiros do relógio. Dia, noite, noite, dia, o carrossel rodopia, rodopia, ora alto, ora baixo e deixo-me levar pelos movimentos repetitivos que não conduzem a lado nenhum.
O rom-rom das máquinas sobrepõem-se à música em altos tons difundida, e não encontro razões para o deslumbramento das crianças empoleiradas nas girafas ou cavalinhos de madeira. É só um carrossel, uma giratória máquina estúpida, que roda, roda, sempre em movimentos repetitivos sem destino que não seja a paragem. Que me importa que ande ou pare! Sou um mero passageiro de um redondel sem finalidade. Até o homem que gere o carrossel pode abandonar os comandos, pois sabe que nunca ficará sem a sua máquina. Não há fuga para o carrossel.
Um vazio, um alheamento total. As pessoas, as circunstâncias, as pessoas, as pessoas, as pessoas!
Que futuro, que objectivos? Não há futuro quando não se vive o dia a dia em paz, ou o futuro é o dia a dia, o minuto que se vive.
Máscara misto de hipocrisia feita carnaval social, até quando serei capaz de a assumir?
O céu tem sempre a mesma cor, tal como o rosto e expressão daqueles que me rodeiam. Tela cinzenta, sem estrelas ou luares românticos, rostos de sorrisos que me incomodam por expressões de alegria ou felicidade que não sou capaz se assimilar.
Serei só eu o hipócrita ou a hipocrisia é um valor definitivamente assumido no mundo que me rodeia e eu ainda não o atingi em pleno?

2 comentários:

Lu Soares disse...

Habituei-me a ler-te de forma tranquila,em paz e harmonia...não estou habituada a ler-te com estes sentimentos.Que aconteceu?
Apenas desejo que seja algo temporário e que voltes à tua tranquilidade absoluta,sem neblinas nem frio e sem relógio...quanto ao carrossel...depende da forma como te deixas ir,tenta deixar-te ir devagarinho e esquece o barulho da máquina,ouve apenas,atentamente, a melodia do silêncio,porque o silencio também se ouve e pode ser belo.
Doce beijo

Lu

P.S-...e diz sempre não à hipocrisia e tudo vale sempre a pena....mesmo nos piores momentos.

Anónimo disse...

Lembranças de dias mais cinzentos? Daqueles que quase lhe contaminaram a alma?
Porque há memória, vale sempre a pena reviver pequenas/grandes vitórias. A Vitória do Ser uma vez mais... o libertar-se duma teia que teimava em consumir-lhe a mente, prender-lhe as asas e impedi-lo de perceber que tantas máscaras que nos amedrontavam caem rapidamente por terra quando olhamos para lá dos óculos espelhados.

Um brinde aos dias radiosos e ao simples desabrochar de uma flor depois de passada a escuridão.

Bjs gostosos da Bebé

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