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Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

quarta-feira, julho 14

Velhos tempos, tempos modernos...

Pai, Mãe, preciso falar-vos. O tom solene surpreendeu-os. Acho que já tenho idade e "necessidade" de uma mesada ou semanada.Tinha dezassete anos,estava já no sexto ano, décimo primeiro como dizem agora.
Entreolharam-se e perscrutei naquela momento uma certa anuência. Não me disseram de imediato que sim mas convidaram-me a esperar pelo fim do mês. Chegado, o meu pai convidou-me a acompanhá-lo ao acto de recebimento do salário. Assinava uma folha e pagavam-lhe ao balcão em dinheiro.A minha mãe também recebera por esses dias.
Em assembleia senti-me importante ao sentar-me à mesa da sala com eles. Um envelope da minha mãe, um outro com o dinheiro do meu pai! Tanto, pensava ao colocá-lo misturado em cima da mesa...
Vai buscar um papel e lápis, ajuda-nos aqui. Fui, e comecei a anotar. Renda, água, luz, telefone,mercearia, etc, etc.
Mas olhem lá, estas contas já passaram a quantidade de dinheiro que está em cima da mesa!
Pois, vais ao Sr. Pereira, levas o role e diz que os pais pedem para ficar cem escudos por pagar para o mês que vem. Fui e vi-o fazer as operações para que o mês seguinte começasse logo à partida com cem escudos. No role pequeno tipo caderneta que transportávamos sempre que adquiríamos algo e num livro grosso, estreito com múltiplas folhas encabeçadas por nomes, um deles o do meu pai.
Ao regressar a casa, não me lembro se continuamos à mesa. Sei é que nunca mais falei em mesada ou semanada.Passei a estar imensamente feliz com o dinheirito que os meus familiares me davam ou eventualmente uns tostões que dos meus pais em momento de menos aperto ganhava.
Continuei a estudar latim à mesa do café com o meu amigo Martins. Uns dias bebia a "chinesa" outros bebia eu. O importante era fazer uma despesa que nos permitisse ocupar a mesa...
Aprendi a gerir o que tinha. O que não meu, não existia.
Os meus pais não eram detentores de curso algum!
E que lição recebi, que sabedoria tinham eles.
Na qualidade de pai procurei passar a mensagem. Estou satisfeito, entenderam, assumiram-na, os meus filhos.

1 comentário:

Aninhas disse...

Quantas vezes sinto que os meus alunos não dão valor nenhum ao dinheiro! E mais grave ainda, o que têm é para gastar num bar qualquer e depois acham que pagar 25 Euros para assistir a um congresso de 2 dias é muito caro.
E a culpa é necessariamente dos pais que não sabem impor limites e explicar o que a vida custa ou custou.
Hoje vivo confortavelmente, mas sempre aprendi o valor das coisas e angustio-me com todo este desperdício... É que a repercurssões sociais e económicas desta atitude serão ou estão a ser tremendas...Gasta-se sem pensar...Gasta-se no supérfluo...Gasta-se porque se tem que ter tudo... E assim anda este país...a gastar o que não tem porque as pessoas são mal formadas...
E não é que já eramos assim no séc. XVI, quando usamos os lucros da expansão portuguesa para comprar tudo o que era de luxo e não investimos no desenvolvimento da indústria local! Será uma espécie de fatalidade ou de falta de educação e de cultura financeira?
Bem haja e bons dias de verão!

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