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Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

terça-feira, junho 22

Registo

Creio que tinha cerca de um ano quando o meu pai emigrou. À época a Venezuela, Curaçau e África do Sul, na Madeira, eram os destinos mais correntes.
A minha mãe, aparentemente uma mulher frágil, tomou a família aos ombros. Quatro filhos! Era professora e até à minha instrução primária lembro-me de vários ambientes, paisagens, pessoas. Creio que esteve um ano em cada escola! As escolas eram por vezes em sítios recônditos, junto a povoações por detrás do sol posto. A iliteracia era enorme. Os campos absorviam a mão de obra das crianças em idade escolar, coisa naturalmente assumida. Mas quem aprendia a ler e escrever, aprendia. Havia exames e aferições de conhecimento para atribuição de diplomas escolares, expoente máximo em cerimónias inesquecíveis de viagens às sedes de concelho para prestação de provas, deslocação em táxis apelidados de "abelhas" batas impecavelmente brancas, caneta de tinta permanente, lápis borracha e mata borrão!
Durante anos habituei-me. Novas limitações, os quartos de recurso, as casas de banho ou à inexistência delas...
Anos e anos, o meu espaço infantil estendia-se entre as sala de aulas onde a minha mãe ensinava, os terreiros e os caminhos, as casas das vizinhas onde saciava a minha gula em bolos e petiscos que hoje não encontro sabores.
Nas salas de aula, por onde a minha mãe andasse, uma foto, ou duas, obrigatoriamente.
Na minha santa ingenuidade convenci-me que só alguém importante para a minha mãe a acompanhava em todos os sítios por onde andasse. E esse seria o meu pai...
O fardado com faixa atravessada ao peito não era, pois ele não era tropa. Tinha que ser o outro, o civil...
Nunca manifestei à minha mãe nem a ninguém essa minha dedução.
Passados anos, rimo-nos a bom rir. Salazar não era em definitivo o meu pai!

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