Acerca de mim

A minha foto
Mas quem sou eu mesmo? Nem eu sei se calhar. Em busca, permanentemente em busca!

segunda-feira, julho 16

2018 ao acaso


Desculpe, senti bater-me nas costas…

Era um velho, um pouco mais velho que eu, pequeno, óculos garrafais, sorriso franco, tez queimada de praias de seara.

Podia dizer-me a como é que está a meloa, 0,99 em caracteres quase gigantes, não suficiente grandes para apreensão de todos…
O diálogo brotou, sem constrangimento. Também cultivei melancias e meloas. Diziam que eram boas, então as melancias, especiais. Vendia muitas!
Era a 0,15€ o quilo. Depois a pessoa que mas comprava deixou de o fazer, tinha que ser eu a pesá-las, fazer contas… difícil, eu só as cultivava e bem.
NÃO SEI LER, NÃO SEI ESCREVER LETRAS, disse.
Tenho pensado no episódio!
Este é mais um episódio no universo do meu dia a dia.
Quem pode ignorar esse tempo em que a iliteracia era tolerada como um mal menor? Quem ousa arvorar-se em defensor desses tempos?  Conheço alguém!
Confesso que bendigo o esforço de meus pais, a visão de futuro que os norteava para os filhos, gente simples, sábia.
Lembro-me sempre o episódio da vinda da minha família para o centro urbano, a proximidade das escolas, na altura. O meu avô questionava se seria a decisão correcta a tomar. Para quê o Liceu, a Escola Técnica? Havia muitos balcões e comerciantes a precisar de empregados…
Esta era uma observação pejada de contradições… um dos meus tios tinha vindo estudar para o Porto e formara-se em medicina!
Felizmente os meus pais apostaram no “cavalo certo”, vieram para o Funchal. Todos nós frequentámos estabelecimentos de ensino secundário. Não nos ficamos pelos trocos de uma gaveta de balcão!
Não se pense menor, esta evocação. Na Madeira só podia estudar quem tivesse acesso directo ao Funchal, meios, Colégios particulares, o velho Liceu Jaime Moniz, a Escola Industrial e Comercial do Funchal, e até o Seminário, estabelecimento de ensino redutor para quem sem posse e fora do Funchal quisesse estudar.
Este desconhecido com quem me cruzei fez-me reviver este episódio da história familiar.
São episódios destes que me estimulam a continuar a estar próximo de quem eventualmente queira aprender…partilhar o que eventualmente recebi por esta ou aquela circunstância.
Se calhar consigo deixar transparecer este meu “ESTAR” e de vez em quando alguém se sente à vontade, sem inibição para me usar como leitor de etiquetas!!!


1 comentário:

Lourdes Henriques disse...

Já tinha Saudades destas suas Excelentes aparições meu querido Professor.
Sempre atento, sempre desperto, sempre disponível para auxiliar quem o procura.
E tem muita razão quando diz que ainda há quem "os defenda...!"
De uma forma geral (salvo raras excepções) quem "os defende" são normalmente pessoas que de uma forma ou de outra nunca souberam o que é "o pão que o diabo amassou" a sério, ali no duro. E defendem algo de que nunca sofreram na pele.
Também eu venho de um passado do ainda tempo da "escuridão" que pessoalmente não me deixou grande marca. Mas ouvi muitos relatos dos meus pais e tios sobre os seus passados difíceis, e isso quantas vezes me magoou como se fosse comigo própria! E não consigo esquecer...
Bem-haja por ter o coração nobre que tem.
Grande abraço da
Milú.

______________________________________________