Quando em 1984 ingressei na
então Hoechst Portuguesa era Wolfgang Kemper o CEO.
Figura quase lendária no mundo
Hoechst não tardou muito tempo para me cruzar com ele.
Colocara o pé no primeiro degrau de
entrada do magnífico edifício em Mem Martins, do interior surgiu-me um vulto,
grande silhueta, a luz difusa permitiu-me ver estampada no rosto uma grande
cicatriz.
Já me tinham caracterizado,
o Sr. Kemper em tempos sofrera um grave acidente de carro…
Boa noite, proferiu, um
português estrangeirado. Quem é o senhor, disparou. Sou Afonso Faria, novo operador
de informática, começo o meu turno agora. Sabe quem eu sou, retorquiu, e de
imediato, Kemper, chefe cá da casa, seja bem-vindo!
Os meus horários eram desfasados
da maioria dos trabalhadores, mas algumas vezes cruzei-me ou muito tarde ou
muito cedo com o Sr. Kemper. Estão a ver um CEO de uma multinacional alemã registar
anomalia de um pingo de uma torneira para chamar directamente o responsável?
Sim, coisas desse género fazia-o, o Sr. Kemper.
Uma noite, seriam cerca das
duas da manhã, entrou-me de surpresa no “data center”, vulgo sala do Computador.
Para chegar à sala tinha que passar uma porta de vidro no corredor, codificada.
Nos seus apontamentos todos os códigos acessos da “casa” estavam registados,
certamente. Acompanhado pelo filho que me apresentou, Markus, disse. Na altura
Markus Kemper tinha a actividade de “broker”, intermediário de negócios.
Precisava de uma peça emprestada, IBM e vinha saber se nós podíamos dispensar
por dias.
Sim, por acaso tínhamos,
podia ser dispensada. Obrigado, disse Markus, e disponha-se a levá-la. Não,
Markus, senhor, (era eu), faça um papel para o Markus assinar a comprovar que
levou.
Assim foi, assim também era
Wolfgang Kemper, “o chefe” lá da casa.
Estes foram episódios
vivenciados por mim. Outros por outros experimentados e algumas vezes narrados
constituem certamente características particulares e simples, menos conhecidas
do HOMEM.
2 comentários:
Olá Professor Afonso
Estas formas de proceder com os outros é que fazem muitas vezes a diferença.
Há os que podem, mandam e sabem fazê-lo respeitando os outros, ainda que sejam seus subordinados.
Contrariamente, há os arrogantes e pretensiosos que nada valem, mas que ainda assim querem mostrar superioridade e quantas vezes humilham os seus semelhantes...
Obrigada pela partilha desta sua memória.
Que o Sr. Kemper descanse em Paz.
Um abraço.
Milú.
Boa noite Sr.Afonso,
Há pessoas que se cruzam em nossas vidas independentemente da posição que ocupam, e deixam marcas muito boas. Quando isso acontece, essas marcas vão perdurar na nossa memória para sempre. Foi o que aconteceu consigo em relação a este Sr.
Um abraço
Rosa Santos
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