Serpenteando estrada
acima, pavimento irregular empedrado, cheguei ao topo. Já me haviam
falado, referência ocasional de uma conversa breve, circunstancial. A
serra do Socorro!
A primeira impressão
foi que não havia chegado ao topo de uma serra mas sim ao cimo de um
planalto. Depois, gradualmente foi deixando o olhar estender-se,
alongar-se sem restrição de encontro ao horizonte, próximo ou
distante consoante a neblina que envolvia aquela imensidão de terra.
Do alto, a meus pés,
com um silêncio pesado aos ombros, um sol que queima mais, por mais
próximo, observo o movimento enfileirado de carros formigas, sem
marcas, potências, uns num sentido outros noutro. Não os ouço...
parecem-me todos iguais. Casas, à esquerda, à direita, ao fundo,
mais distantes ou próximas, cores diversas, janelas portas de
anseios, vidas iguais na minha equidistância. Não interpreto,
limito-me a ver e o que vejo é o que sinto!
Vagarosa e indolentemente, na encosta verde, um corvo plana.
Para ali, ouço, é as
Berlengas, não fosse o dia, facilmente se veria...O Sobral, acolá,
na direcção da eólica... Sintra, lá em baixo... o Tejo para
ali...Montejunto para além...
O meu pescoço rodou,
rodou, trezentos e sessenta graus, em qualquer direcção, um sítio
qualquer. Se tivesse um binóculo, pensei...
Não, melhor não. Não
vira tudo quanto a minha vista alcançara. Porque sempre desejar
estar onde não estou? Porque passar sem sentir o pulsar do próximo,
daqui, exaustivamente?
A Berlenga não existe
hoje, Sintra manifesta-se ao fundo, Montejunto compete em grandeza, o
Tejo é ficção. Vejo, absorvo, constato!
Qualquer dia nascerei
com o dia aqui mesmo, será um novo sentir, espero surpreender-me...
1 comentário:
Que belo passeio para conversar com "os seus botões". Parabéns pela escolha do local, pois é na realidade maravilhoso. Esquecemos por algum tempo a civilização, a barafunda, por momentos temos a sensação de estarmos num paraíso donde podemos avistar o mundo sem que nada nos afecte ... sem que nada nos consiga molestar ...
Lindas fotografias e uma excelente narração. Como sempre.
Um abraço
Milú
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