O silêncio e a noite foram tomando todo o aquartelamento e povoação. Acenderam-se as luzes, umas electricas de gerador outras a petróleo. Nos focos ao longo do arame farpado, insectos vários, borboletas e mosquitos hipnotizados em movimentos desgovernados.
Mais uma noite de prevenção normal não fossse a tensão acumulada dia após dia naquelas últimas semanas. O Nino fora visto na zona, rumor discretamente passado por informadores anónimos, conhecidos ou familiares, dignos de alguma credibilidade.
Cada Obús estava apontado para determinadas zonas definidas pelos estrategos da defesa em consonância com o oficial de operações.
Subitamente, um sonoro “jacto” passando sobre as nossas cabeças. Um projéctil. Aprendi que quando os ouvia, caíam longe, para além. Olhos atentos, um alaranjado no escuro. Não passou! Um rebentamento curto. Dois, somente dois tiros. A alvo seria corrigido por informadores, segundo me disseram. E assim foi, poucos dias depois.
Entretanto, e como hábito, mal se tinha sentido o primeiro projectil agressivo, fez-se fogo de obús.
Depois, depois só vivido!
Do nada, de entre as tabancas, disparados por milicias, balas tracejantes sulcavam o negro do céu, disparam-se morteiros 80 e 60, cantaram as HK, as G3 nas valas, nos abrigos.
Quando o silêncio caíu, a noite cobriu-se de névoa de pólvora, um acre adocicado sabor na garganta... Dez minutos talvez nem tanto numa luta sem tréguas com um inimigo invisível, inexistente!
Porquê tanta confusão? Contra quem se disparara? No momento construiram-se histórias corroborando as fantasias dos outros, com a mesma convicção.
Que se pretendera afugentar? O medo, simplesmente o medo, o pânico. Esta exorcização custou milhares de balas, dezenas de granadas. A Bissau chegaram os relatos. Havia que justificar o gasto de tanto material -Tite sofrera uma tentativa de de assalto, vulgo “golpe de mão”!!!
O ataque de pânico nunca constou em relatos!